O primeiro teste da acessibilidade de Noronha é o voo. Esse, na verdade, é crucial para os cadeirantes. que geralmente entram no avião carregados, já que as aeronaves não têm espaço para a cadeira de rodas circular. Aí você imagina entrar em um avião com todo mundo olhando e nos braços de outra pessoa? Nada agradável. Dessa vez, porém, nota 10 logo de cara. Isto porque a Gol Linhas Aéreas implantou em seus voos diários para a ilha a cadeira Stair Track. O equipamento é mais estreito do que uma cadeira de rodas comum e usa uma esteira para a subida em escadas, caso o finger (ponte que ajuda no embarque) não esteja disponível no aeroporto.
"Eu realmente adorei essa cadeira. Evita uma grande humilhação e constrangimento. Deveria ser usada em todas as companhias aéreas", afirmou Luan Pereira, nosso viajante. A recepção no Aeroporto de Fernando de Noronha também agradou, principalmente por causa do respeito às filas preferenciais e das rampas na saída para o estacionamento. Quem fizer a viagem com pouca grana, pode pegar um ônibus no local. Todos os coletivos que circulam em Noronha têm elevador para entrada de cadeirantes. "Os elevadores do ônibus de Noronha são bem melhores do que os que existem no Recife. E aparentemente mais resistentes. Outra nota 10. Já as paradas de ônibus recebem nota 0 porque não têm rampas e o cadeirante fica sem independência", completa Luan. Para quem quer mais conforto, alugar um carro na ilha é fácil e do aeroporto mesmo você pode resolver.
No quesito hospedagem, Noronha tem uma boa diversidade. Oito das 110 pousadas da Ilha são acessíveis, com áreas comuns, quartos e banheiros adaptados (veja a lista no final dessa matéria). Aqui, a pousada escolhida foi a Beco de Noronha, que tem classificação três golfinhos, pontuação máxima de hospedagem no arquipélago. Na pousada, a nota dada pelo Luan foi 10 em todos os pontos, menos no banheiro, que levou um 8.
Manuela Fay, gestora de ecoturismo de Noronha, afirma que para conquistar os três golfinhos a administração da ilha exige que a pousada tenha pelo menos um quarto completamente adaptado. "Acredito que o crescimento do turismo acessível depende de uma cadeia que parte de incentivos públicos, passa pela vontade da iniciativa privada e termina na demanda, que é o turista cadeirante. Quando esses três pontos estão caminhando na mesma direção, como estamos vendo acontecer em Noronha, o segmento cresce. Uma prova é que até o início de 2013 nós recebíamos cerca de cinco cadeirantes por ano. A partir de janeiro, quando implantamos o banho assistido, esse número pulou para 80 em 14 meses."
Silvana Rondelle, proprietária da Beco de Noronha, explica que a adaptação da pousada iniciou com o objetivo de atrair turistas idosos. "Começamos com um quarto e fomos aumentando. Quando o projeto Noronha Sem Barreiras foi iniciado, com os banhos assistidos, recebemos aqui Mosana Cavalcanti, coordenadora do Programa de Turismo Acessível – Pernambuco sem Fronteiras, que nos deu outras ideias, que fomos implementando. Hoje, 50% dos nossos quartos são adaptados e isso representou um aumento também de 50% no número de idosos que recebemos e de quase 100% na quantidade de cadeirantes, que era praticamente inexistente", explica. Segundo ela, o custo de adaptar um quarto não é alto. "Você gasta cerca de R$ 3 mil", completa.
Outra oferta diversificada para os cadeirantes que visitam a ilha são os restaurantes. Existem oito locais acessíveis na Ilha. Os testados pelo Luan foram o Triboju, o Mergulhão, o Varanda e o Dolphin. De forma geral, a nota foi 8 para todos, com ressalvas. "No Triboju, a acessibilidade é boa, exceto pela entrada do restaurante, que tem um solo feito de cascas de coco. Fica muito complicado chegar até a rampa de acesso. Já no Mergulhão, falta uma rampa na entrada e espaço no banheiro. O Varanda e o Dolphin são interessantes, mas internamente o espaço não é suficiente. É preciso afastar móveis para passar e isso me deixa constrangido. No Zé Maria foi mais confortável", completa.
Tuca Noronha, supervisor do restaurante Zé Maria, adianta que algumas mudanças estão sendo pensadas. "Para mim, o turismo acessível não é um segmento. É uma obrigação. Acessibilidade é bom para todo mundo. Toda mudança que você faz para tornar um local acessível é para beneficiar a todos. Você colocar uma rampa e vai todo mundo preferir passar pela rampa; coloca um corrimão e todo mundo quer segurar. Ao invés de pensar no gasto de fazer um projeto acessível eu penso que essa é a opção mais interessante sempre, porque você vai oferecer o melhor para todo mundo. Não existe outra opção e por isso estamos pensando em modificações para tornar o restaurante 100% acessível em todos os aspectos", detalha.
Para Pedro Maia, gerente do Mergulhão, a adaptação de alguns estabelecimentos da ilha esbarra na burocracia. "Para que eu adapte o banheiro, preciso de uma liberação para aumentar a área construída. Já pedi, mas até agora não rolou. Sei que as regras existem para a preservação da ilha, mas na questão da acessibilidade, o governo tem que ser mais flexível se quiser incentivar. Já Soraia Ulisses, proprietária do restaurante Varanda, apesar de ter o mesmo problema com a reforma do banheiro, promete mudanças. "Queremos oferecer um banheiro acessível ao nosso público e vamos nos adequar, mesmo perdendo área interna."
De forma geral, a infraestrutura do arquipélago ganhou nota 8, sendo os pontos mais altos a cadeira Stair Ttrack da Gol, o número de pousadas e restaurantes acessíveis e os ônibus da ilha. Os pontos mais baixos, classificados pelo Luan, foram os banheiros dos restaurantes, o acesso de alguns locais e as calçadas e paradas da ilha. A trilha é gratuita.