O sofrimento
À espera do atendimento, uma dor comum a todos
Distante 258 km do Recife, a cidade de Buíque, no Sertão pernambucano, está longe de oferecer um atendimento de qualidade aos seus pacientes. Quem não pode pagar uma consulta particular no município vizinho de Arcoverde, é obrigado a madrugar na fila da Casa de Saúde Senador Antônio Farias, que fica em frente ao prédio da prefeitura. A dona de casa Nazilda Avelino Gomes, 40, esperou mais de dez horas para conseguir atendimento para o filho Jean, de 2 anos, que estava com febre. Segundo a secretária de Saúde da cidade, Fernanda Camêlo, a situação da saúde local "é de chorar". "Enfrentamos muitos problemas para manter o atendimento à população. Falta verba para a saúde e fazemos um esforço grande para poder pagar os salários dos médicos plantonistas", diz a secretária.
No município de Águas Belas, no Agreste, a jovem Dalmone Bezerra Cavalcante, 18, sofre para conseguir um pediatra para a filha Bianca Letícia, de 1 ano e 6 meses. "Minha filha tem uma dor muito forte no ouvido, o que a faz chorar muito. Aqui em Águas Belas, o pediatra só aparece de 15 em 15 dias e ainda tem o problema de conseguir marcar a consulta. Como não vou deixar minha filha sofrendo, acabo pagando passagem de ônibus para ir ao médico de Garanhuns", explica Dalmone. De acordo com o diretor do Hospital Doutor João Secundino de Souza, Antônio Rocha, a unidade de saúde tem médicos de plantão contratados para todos os dias, mas no dia em que o Diario esteve na unidade, não havia médico trabalhando. "Temos dois médicos nas segundas-feiras, e nos outros dias da semana, um profissional", relata Rocha.
Na região da Mata Sul do estado, apesar da entrega de cinco grandes hospitais após a enchente de 2010, algumas cidades continuam sofrendo com a falta de médicos nas unidades de saúde. O vendedor Marcelo Silva do Nascimento, 21, voltou para casa revoltado após ter sido informado por um funcionário de que o médico que deveria estar de plantão no Hospital de Pequeno Porte de Gameleira havia faltado naquele dia. "Estou com dor de cabeça já faz dois dias e não encontro médico nesse hospital. Para amenizar minha situação, estou me medicando com remédios indicados por um farmacêutico", reclama Marcelo.
Quando o Diario visitou a cidade de Buenos Aires, na Mata Norte, uma fila quilométrica esperava para fazer um exame de ultrassonografia. Uma vez por mês, o radiologista Humberto de Arruda Brito atende, em média, 80 pacientes, entregando os resultados na hora, na Unidade Mista Maria Tereza Brennand Coelho. Grande também era a quantidade de pessoas esperando ser consultada pelo clínico. Devido à estrada em situação precária, o médico plantonista chegou atrasado. O primeiro paciente foi atendido quase às 10h da manhã. No Grande Recife, o município de Itapissuma desponta como um dos que está em situação crítica. A doméstica Josefa Alves da Silva, 43, reclama da escassez de médicos. "Meu pai está com os exames prontos desde o mês de fevereiro e até hoje não consegui marcar um urologista no hospital municipal da cidade", conta.