BIOGRAFIA


"Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, mais do que sou não queria ser, mais do que fiz não queria fazer.

Queria ser filho de Januário e Santana, nascer naquela madrugada de Santa Luzia, de 1912, na fazenda Caiçara, lugar onde nasceu dona Bárbara Alencar; queria ser um menino vivido no mato, nos mistérios do riacho da Brígida, onde tomava banho e pescava traíra e corró nas locas do poços; o mesmo menino arrancador de caroá e vendedor de corda na feira de Exu. (...)

Se eu nascesse de novo, queria voltar a receber o abraço amigo, o aplauso sincero dos que me julgaram portador de uma missão: divulgar, no Brasil, a música autêntica do nosso Nordeste"




13 de dezembro de 1912 – Nasce em Exu (PE) Luiz Gonzaga do Nascimento, filho de Januário dos Santos e de Ana Batista de Jesus, chamada de Santana. Por sugestão do padre José Fernandes de Medeiros recebe o nome completo de são Luiz Gonzaga e o "Nascimento" porque nasceu no mês de dezembro, nascimento de Jesus.

1917/18- Gonzaga começa a dar os primeiros toques nas sanfonas de oito-baixos do pai, que, além de sanfoneiro, também consertava os instrumentos em uma pequena oficina em sua casa, próxima ao riacho da Brígida, na fazenda Caiçara, perto do povoado do Araripe.

1924 – Uma enchente leva a família para uma casinha de taipa perto da casa-sede do Araripe. Luiz Gonzaga começa a trabalhar como ajudante faz-tudo do coronel Manoel Aires de Alencar. Também já vai aos 'sambas' tocar ao lado do pai. Aprende a escrever o nome com as filhas do coronel. Com a ajuda do coronel Aires, compra seu primeiro oito-baixos.

1930 – Depois de uma briga com a mãe, por conta de um namoro com uma menina de família tradicional da região, foge de Exu para o Crato e, de lá, segue para Fortaleza, onde se alista para servir ao Exército.

1930-1939 – Luiz Gonzaga serve ao exército passando por vários estados do Nordeste, Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de Janeiro, onde desembarca após pedir baixa, em março de 1939. Neste tempo, tocou corneta no exército – recebendo o apelido de "bico de aço" – e aprendeu a tocar acordeão com o soldado da polícia Domingos Ambrosio.

1939-1940 - Toca boleros, tangos e valsas em bares da zona portuária do Rio de Janeiro e em programa de calouros de rádios. Por insistência de estudantes cearenses, compõe uma música regional, o 'xamego' Vira e mexe, com o qual consegue a nota máxima no programa de calouros de Ary Barroso na Rádio Tupi.

1941 – Começa a gravar na RCA. Lança dois discos de 78 rpms com seu nome neste mesmo ano.

1945 – Grava pela primeira vez cantando e tocando (a música Dança Mariquinha). Procurando por um compositor para colocar letra em suas melodias, é apresentado pelo maestro Lauro Maia ao advogado cearense Humberto Teixeira. Em agosto de 1945 a dupla faz sua primeira música, em apenas dez minutos: No meu pé de serra. Em 22 de setembro nasce Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, filho da cantora e dançarina Odaléia Guedes dos Santos.

1946 – A música Baião é lançado em outubro pelo grupo Quatro ases e um curinga. Sucesso imediato. Gonzaga tira férias e visita o Araripe pela primeira vez desde que fugiu de casa. Na volta para o Rio de Janeiro, visita o Recife pela primeira vez, onde conhece Zé Dantas, então estudante de medicina.

1947 – Asa Branca é lançada. Inspirado no artista gaúcho Pedro Raimundo, Luiz Gonzaga passa a se apresentar com roupas de couro no estilo do vaqueiro nordestino e dos cangaceiros de Lampião.

1948 - A marcha-frevo Quer ir mas eu? é sucesso no carnaval. Em 16 de junho, após um breve namoro, se casa com Helena das Neves Cavalcanti.

1949 – Finalmente grava Baião. Grava também Juazeiro, que, assim como Asa branca, é do repertorio do folclore do sertão. No final do ano, leva a família toda para o Rio de Janeiro, por conta das disputas violentas entre famílias do Exu.

1950 – Grava Vem morena e parceria com Zé Dantas recebe os aplausos da crítica e do público. Somente neste ano lança vinte música inéditas.

1952 – Por divergências em relação aos direitos autorais, termina a parceria entre Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Helena e Gonzaga adotam uma menina, Rosa Maria.

1953 – Lança uma série de importantes parcerias com Zé Dantas, entre elas Vozes da seca e ABC do sertão.

1955-1960 – Luiz Gonzaga grava o seu primeiro disco em formato de LP, uma compilação de músicas já lançadas em 78rpms. O baião apresenta sinais de declínio nas rádios. Luiz Gonzaga começa a fazer longas turnês pelo interior do Brasil, tocando em feiras, circos, auditórios, cinemas, teatros.

1960 – Morre no Rio de Janeiro, no dia 11 de junho, dona Santana, vítima da doença de Chagas. Em novembro, para revolta dos filhos, seu Januário se casa pela segunda vez, no Exu, com Maria Raimunda de Jesus.

1962 – Morre o parceiro Zé Dantas, aos 41 anos. No mesmo ano, em um estúdio da rádio Mayrink Veiga, Gonzaga conhece João Silva, que se tornaria seu terceiro parceiro mais importante, com quem farias sucessos com músicas como Danado de bom e Pagode russo.

1967-1970 – Gonzaga começa a voltar para a mídia. Os artistas que encabeçam a tropicália dão entrevistas citando Luiz Gonzaga como inspiração. "Ele foi a primeira grande coisa significativa do ponto de vista da cultura de massa do Brasil", disse Gilberto Gil em entrevista a Augusto Campos em abril de 1968.

1968 – Inclui quatro músicas do filho no disco Canaã. Quatro anos antes já havia gravado Lembranças da primavera, primeira composição de Gonzaguinha, feita aos 14 anos. O comunicador Carlos Imperial inventa o boato de que os Beatles iriam regravar Asa Branca, o que rende nova onda de interesse da mídia por Luiz Gonzaga.

1972 – Grava em março no teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro, o disco ao vivo Luiz Gonzaga volta pra curtir.

1974 – Grava Samarica parteira, último legado da parceria com Zé Dantas, que já era executada há anos em shows, mas nunca havia sido gravada.

1975 – Encontra com Edelzuíta Rabello em um vôo de Recife para Brasília e inicia o relacionamento com sua última companheira.

1977 – Depois de cinco anos afastado dos palcos cariocas, se apresenta com Carmélia Alves no teatro João Caetano para celebrar os 30 anos do baião.

1978 – Morre seu Januário no dia 11 de junho, exatamente 18 anos depois de dona Santana. No mesmo ano, morre também Humberto Teixeira.

1980 – Consegue ajudar a selar a paz entre as famílias do Exu. Em junho, canta para o papa João Paulo II em visita a Fortaleza.

1984 – Recebe o prêmio Shell e ganha seu primeiro disco de ouro com o LP Danado de bom, que traz quatro composições de co-autoria de João Silva.

1986 – Pela segunda vez – a primeira foi em 1982 – se apresenta em Paris, na França.

1988 – Já debilitado por conta de um câncer de próstata que se espalhou para os ossos, Luiz Gonzaga se separa definitivamente de Helena e assume publicamente o relacionamento com Edelzuíta. Assina contrato com a gravadora Copacabana, que lançaria seus quatro últimos discos.

1989 – No dia seis de junho faz seu último show, no palco do Teatro Guararapes, acompanhado por diversos artistas. Depois de 42 dias de internação, falece no amanhecer do dia dois de agosto, no hospital Santa Joana.



"Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor. (...) Quero ser lembrado como o sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou os filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor"