Luiz Gonzaga fala sobre o encontro de Lampião com Padre Cícero
As tietes de Gonzagão
"Numa de sua viagens pelo Brasil, Gonzaguinha encontrou uma senhora nordestina, baixinha, que o abordou:
- Você não é o filho do Gonzagão?
- Sou, sim, senhora!
- É filho do Gonzagão?
- Sou eu mesmo.
- Dei muito pro teu pai!" (Do livro Gonzagão & Gonzaguinha, de Regina Echeverria)
Asa Branca é música para cego
"Quando gravei a música (Asa branca), houve até uma brincadeira de mau gosto. Canhoto, violonista do conjunto de Benedito Lacerda e que me acompanhava desde a época do Mangue, pegou um chapéu e passou para colegas botarem dinheiro, me imitando. Humberto, que estava na gravação, lhe disse:
- Por que é que você está fazendo isso?
- É porque isso é música de cego.
Humberto então falou:
- Tome nota, isso aí vai ser um clássico" (Do livro Gonzagão & Gonzaguinha, de Regina Echeverria)
Como seu Luiz incorporou a expressão "meu zamor":
"Quando eu vinha do Rio, nem passava pelo Exu, ia direto pro Araripe. Uma vez, estou chegando, um sol quente danado, e aí eu vi uma velhinha caminhando na estrada, e buzinei de leve. Ela abriu a estrada pra mim, ficou em pé, parada no lado. Eu vi que era a sogra do meu pai (nesta época, Santana já havia morrido e Januário estava casado com Maria Raimunda). Aí parei o carro e gritei:
- Quer carona, meu bem?
- Quero não senhor, que eu to indo aqui pertinho.
Ela não tinha me reconhecido, tinha vista curta...
-Mas a senhora deve estar cansada, com esse calor, em um minuto a senhora chega.
- Não, não estou cansada não, que eu moro aqui pertinho.
- Tá mentindo, Sá Raimunda, daqui pro Araripe dá uns cinco quilômetros ainda!
Foi quando ela me reconheceu e falou:
- Ô 'meu zamor', me leve que eu tô morrendo de cansada!" (Do livro A vida do viajante, de Dominique Dreyfuss)
A paixão pelo circo
"Eu trabalhei mais de quinze anos nos circos de São Paulo, no Nordeste, em Minas. Eu fazia meu show no final da apresentação do Circo, era a segunda parte. O cachê não era grande coisa. Mas quantas vezes também eu perdoei a divisão dos benefícios...porque não dava, quando acabava o show, o dinheiro era tão pouco que eu ficava com pena e deixava tudo pro circo. E ainda dava pano de circo pra eles" (Do livro A vida do viajante, de Dominique Dreyfuss)
Vitalino e o direito autoral
Eu assisti uma cena na feira aqui, uma vez uma paulista vinha com uma braçada de bonecos que tinha comprado em noutra barraca, quando chegou na barraca Vitalino, disseram pra ela: "Esse aqui é o Vitalino".
- Gente! O senhor é que é o seu Vitalino?
- Sim, senhora...
- Mas eu comprei esses bonecos todos numa barraca ali, disseram que era de Vitalino!
- É assim mesmo dona, é colega, é companheiro, dá pra todos, dá pra todos.
- Não, mas eu queria de seu Vitalino, que é o senhor!
- É a mesma coisa!, respondeu Vitalino. (em entrevista de 1971 a Genival Silva)
O estrangeiro
Pergunta: Você já visitou o estrangeiro?
Luiz Gonzaga: Eu visito sempre um português meu vizinho. É o único estrangeiro que eu costumo visitar, é um gentleman. País mesmo, não. (em entrevista de 1971 a Genival Silva)
Confissões amorosas
Os bilhetes de Luiz Gonzaga para Edelzuíta Rabello, sua última companheira.
"Zuíta, artista não tem domicilio, mas eu te adoro em qualquer lugar"
"Zamor: boas festas. Quando dois corações se amam é isso aí: eu e tu. Teu veinho"
"Eu tou é numa boa, legal? Falouooooooo!" (Diario de Pernambuco, 23 de junho de 1995)
O primeiro beijo com Edelzuíta
"A gente tinha se conhecido numa festa de São João, em Caruaru. Na época ela era noiva, estava para se casar com um radialista de lá, Ludogério. Nós dançamos juntos. (...) Bem, mas agora era o segundo encontro, ela me reconhecendo e eu não. Ela me disse então que Ludogério tinha morrido num desastre de avião, três meses antes. Eu senti que ela estava precisando falar. O avião para Brasília ainda ia decolar, então nós fomos pro restaurante do aeroporto. (...)
E ela falando, conversando, o almoço terminou e a historia não tinha acabado: perdera três casamentos, a mãe acabava de morrer, estava indo buscar o velho pai em Brasília para ele vir morar com ela no Recife...quando enfim acabou a história eu disse para ela:
- Minha filha, você é muito novinha para ter uma vida com tantas tristezas. Mas eu acho que eu encontrei um jeito para resolver o seu problema.
- Qual é?
- EU!
Aí nossos joelhos se tocaram e tchan! Foi aquele beijo danado. Eu sempre fui um mulato beijador..." (Do livro A vida do viajante, de Dominique Dreyfuss)
Uma estranha companhia no Amapá
"...Após o descanso normal, logo apos a chegada a Serra do Navio, fui convidado a visitar as minas, as repartições, a cadeia. Não havia presos e o soldado que montava guarda tirava uma soneca. Ficou meio atarantado quando chegamos, mastigando uma desculpa aos seus superiores. (...) Enquanto visitávamos o salão, inquiriu-me:
- A que horas o senhor vai pra Macapá, amanhã?
- Mais ou menos às oito, respondi.
- Acho que vou viajar com o senhor. Não repare no mau jeito do passageiro...
Não entendi a piada. (...)
Terminada a visita, ao despedir-me do soldado, este voltou a insistir:
- Tá bem, rapaz. Pega nada não. Até amanhã.
Logo o esqueci.
Após o show, porém, eis que ele me surge e novamente me adverte:
- Olhe seu Luiz, vou viajar com o senhor. Mas não repare no mau jeito...
- Tá bem rapaz, não se preocupe. Até amanhã.
Não sei porque, o seu riso exprimia qualquer coisa de anormal. Talvez fosse um maníaco, pensei.
Mas a noite decorreu tranquila e o incidente foi relegado a um segundo plano.
No dia seguinte, estava a arrumar-me para a viagem quando chegou um funcionário do Território.
- Seu Luiz, o diretor manda perguntar se o senhor não se importa que viaje no seu carro um passageiro meio exótico.
- Já sei, deve ser aquele guarda de ontem. Até falou comigo, varias vezes, que ia também.
- É ele mesmo, mas viaja empacotado. Desde ontem que é defunto...
Fiquei estarrecido. Falei pro funcionário:
- Engraçado, advertiu-me que viajaria comigo e pediu que não lhe reparasse o mau jeito...
O carro era um pouco apertado. Mal cabia quatro pessoas. De modo que o defunto criou um serio problema de espaço. Foi então que Salário mínimo teve logo uma idéia um tanto pratica e estranha: viajar sentado no caixão, no que foi logo seguido por Chiquinho, cunhado de Marines. E, naquele aperto, note-se bem, tiveram de acomodar-se duas inconsoláveis mulheres. Eram viúvas do soldado suicida, soubemos logo. Fora aquela sua única saída para a enrascada que se metera: a bigamia." (De O sanfoneiro do riacho da Brígida, de Sinval Sá)
O boiadeiro do circo em Santos
"Certa vez, no circo em Santos, quando ele começou a fazer a introdução da musica A volta da Asa Branca, alguém da plateia, antes do Gonzagão começar a cantar, canta: Vai boiadeiro que o dia já vem/ leva o seu gado e vai pra junto do seu bem. O circo quase vem abaixo de tantas risadas. Quando se fez silencio, Gonzaga voltou a fazer a introdução e começou a cantar: "vai boiadeiro que o boi já fugiu...". O cabra completou: "leva o teu gado e vai pra puta que pariu". O circo veio abaixo novamente." (Do livro Porque o rei é imortal, de Jose Nobre Medeiros e Antonio Francisco da Costa)
As mudanças do sertão
"No Crato, depois de muito tempo ausente da região, Gonzagão lançou A volta da Asa Branca em um marquise. Um comércio impotente que não podia pagar o cachê, mas a vontade de cantar ali era muito grande. Começou a cantar e quando entrou no verso "sertão das muies serias, dos homes trabaiadó", um sujeito da plateia gritou: "Gonzaga, faz muito tempo que você não vem aqui!"
(Do livro Porque o rei é imortal, de Jose Nobre Medeiros e Antonio Francisco da Costa)