A doença
Relatos bíblicos

Ela foi o martírio de Jó e de tantos outros personagens bíblicos. O livro sagrado dos cristãos a coloca como uma doença amaldiçoada, cuja cura é descrita como milagre, um dos maiores que alguém poderia alcançar. Não sem motivo. Passados séculos, esse mal ainda assusta. O horror em relação à doença se explica, principalmente, pelas lesões físicas, úlceras e deformações geradas naqueles que não tiveram o tratamento adequado. Marcas físicas que ferem também a alma.

A hanseníase é uma das doenças mais antiga de que se tem registro. As menções datam de 1.350 a.C, no Egito Antigo. Para o Brasil foi trazida por portugueses e escravos ainda com o nome de lepra. É um mal silencioso, podendo demorar anos para se manifestar. A infecção multibacilar (que apresenta mais de cinco lesões de pele), sem tratamento, faz do portador um transmissor em potencial.

Volume de registros cai, tratamento muda, mas números ainda são elevados

Mais de seis décadas se passaram desde o período do isolamento compulsório no Brasil. Nesse meio tempo mudou a forma como a doença é tratada e caíram, consideravelmente, o volume de registros. Os índices, porém, ainda são preocupantes. Tal qual no governo Getúlio Vargas, o país permanece na segunda colocação em quantidade de casos detectados, conforme atesta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2007 o governo chegou a abandonar o compromisso com a OMS de eliminar a doença e adotou uma política de controle, algo que só foi revisto este ano.

De acordo com o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, em 2013 o governo decidiu adotar uma postura mais firme, principalmente no que diz respeito à cobrança a estados e municípios. A linha de ataque agora parte da identificação da enfermidade em menores de 15 anos. Para isso, no ano passado foram desenvolvidos trabalhos em escolas públicas dos 850 municípios que concentram os maiores índices da doença e examinadas 3,9 milhões de crianças. Dessas, 300 foram descobertas com hanseníase.

"Em apenas uma semana tivemos quase que 15% do esperado para um ano. Boa parte desses casos não seria identificado facilmente ou não entraria naquele número anual. Sempre temos casos além dos números", declara Barbosa. Por ano costumam ser detectadas no Brasil, em média, dois mil casos em menores de 15 anos.

O secretário ressalta, no entanto, que as taxas de redução da doença têm crescido. Para isso cita um percentual de queda de 41,5% entre os anos de 2003 e 2012. Mas ao mesmo tempo, reconhece que muito ainda pode ser feito. "Teoricamente parece um paradoxo porque o acesso à saúde básica no Brasil é elevado. Poderíamos ter avançado muito mais na década de 1990".

Expediente

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