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Quando a pressa é inimiga da saúde

Pernambuco é o terceiro lugar no ranking de estados com maior parcela da população sofrendo de colesterol alto, ao lado de São Paulo, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde. Entender essa posição num local que, por anos, tem uma expansão econômica acelerada não é difícil. Se deixar de estocar em casa comidas excessivamente gordurosas ou açucaradas não chega a ser tão complicado, resistir à tentação de substituir refeições por lanches rápidos com a velha desculpa da economia de tempo é cada vez mais desafiador. Almoço vira sanduíche e o jantar, pizza, refrigerantes ao lado. O que parece ganho de tempo significa ingestão diária de bombas de gordura e açúcares, bem acima do recomendável, e deixa o caminho livre para a elevação de colesterol e triglicerídeos.

De cada 30 pernambucanos, ao menos um admite substituir sistematicamente refeições por fast food. O surpreendente é que o comportamento ocorre sobretudo na parcela mais esclarecida da população, com ensino superior, e é 20% mais comum entre as mulheres. "Crescemos muito economicamente, mas esse crescimento é desvinculado da educação. Pessoas têm mais acesso, passam a matar a vontade de consumir o que não podiam. A consequência é na saúde", diz Fábio Moura, endocrinologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz.

Uma dieta saudável é composta por menos de 7% de gorduras saturadas no total das calorias ingeridas. E, nesse campo, alimentos processados perdem de longe: mais calóricos e com menos fibras (redutoras naturais dos triglicerídeos), eles são ricos em gorduras saturadas e trans (de origem industrial). Resultado? Oferecem excesso de carboidratos simples, aumentando o risco de obesidade e, em médio prazo, de problemas cardiovasculares. Assim, a gordura é absorvida pelo corpo e levada do fígado às artérias, onde se acumula, diminuindo, com o tempo, o espaço de passagem do sangue ao coração.

O acompanhamento alimentar mais nocivo possível nesse cenário é o refrigerante. Processado no corpo como açúcar, mesmo sem ser, ele desperta desejo por mais alimentos doces e aumenta a resistência à insulina, além de elevar a excreção de cálcio, caminho mais curto à osteoporose. "Eles são pobres em nutrientes e ricos em corantes e conservantes. Já os refrigerantes dietéticos têm excesso de adoçantes, conservantes e fosfato", alerta a nutricionista Isabele Calaça, provando que mesmo em pequenas doses, a bebida deve passar longe de fazer parte da rotina.

 

No limite da razão

João Paulo faz exercícios regularmente para manter a dieta do fast food

 

A alimentação do administrador João Paulo Andrade, 28 anos, foge à tradição do brasileiro. Na mesa dele não entram arroz nem feijão. Carne, só às vezes. Verduras, jamais. "Tive um problema de refluxo na infância e perdi o tempo da habituação alimentar", garante. Nem mesmo as tentativas da mãe impediram João de adotar como preferências os sanduíches e frituras. "Criei um bloqueio psicológico", justifica.

Em dias comerciais, o administrador evitar comer fora de casa. Mesmo assim, não abre mão da batata frita e dificilmente consegue fugir à pizza no jantar. Fim de semana, as refeições são sempre na franquia de fast food mais próxima. "O mais difícil é sair de casa. Evito convite para comer na casa de amigos e sofro para encontrar um restaurante onde possa jantar com minha namorada, pois ela come de tudo", ressalta.

Apesar dos hábitos, João mantém peso adequado para a altura e idade. A cada seis meses, faz exame para averiguar as taxas. Não apresenta alteração no colesterol ou triglicerídeos. Para os médicos, pura sorte.

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O desafio de "comer na rua"

Quando o assunto é alimentação, o desafio é comer fora de casa. As opções de fast food se multiplicam nos grandes centros urbanos e, mesmo na diversidade de opções dos restaurantes self services, as comidas gordurosas ainda são as que mais deixam a boca cheia d'água. A resistência a essa tentação do cotidiano é o "pulo do gato" para frear a alta das taxas e evitar doenças. Muita gente pensa que a tarefa é difícil, tendo em vista a sobremesa irresistível ao lado do buffet, mas é possível manter a regra mesmo em um ambiente com opções para todos os gostos. "Estamos na era da alimentação para a coletividade, o alimento não é preparado pensando em você. Isso é uma desvantagem em relação a outras épocas, mas a chave está em se conhecer. Saber quanto pesa, quanto quer pesar, quais as atividades realiza durante o dia", afirma a professora do núcleo de biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco Edileide Freitas Pires.

Para conseguir levar para fora de casa os hábitos de alimentação saudável é preciso colocar a cabeça para funcionar, não agir pelo impulso e pensar, em cada refeição, o que entra no prato. "É preciso pensar até sobre o local onde vai comer. Para pessoas que já têm taxas elevadas, o planejamento deve ser mais rigoroso", lembra o médico nutrólogo e diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Fernando Bahdur Chueire. Para ele, o ideal mesmo seria levar a comida de casa. Principalmente uma fruta para os horários de lanche. Outro alerta é evitar pular refeições. "Você tende a engordar, porque gasta energia da proteína e desregula a taxa de açúcar no sangue. Além disso, a tendência é que você, na ânsia de saciar a fome, recorra a frituras, sucos de caixinha e refrigerantes", conclui a nutricionista Graça Alburquerque.

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