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Por dias melhores,
durma bem à noite

Um em cada 11 pernambucanos só dorme com a ajuda de remédios. A informação da Pesquisa Nacional de Saúde é um alerta, uma vez que membros da Associação Brasileira do Sono (ABS) revelam que 80% sequer precisariam dos medicamentos. O impacto na concepção de saúde dessa realidade parte do ponto de que o sono é a reposição de combustível do corpo humano. Não basta manter alimentação saudável e praticar exercícios quando não se reserva tempo suficiente de descanso da cabeça sobre o travesseiro todo dia.

Essas drogas são indicadas, em geral, para pessoas com problemas de ansiedade e depressão - ainda assim, com prazo definido para não ocorrer o vício. O problema é que o sono induzido não atinge a fase reparadora, quando os neurônios têm funções reguladas, há reposição energética e melhora do sistema imunológico. "Cada fase do sono significa uma progressão de intensidade, com diminuição da frequência cardíaca e liberação de hormônios do sono e do prazer. Atingir o estágio reparador confere um dia seguinte de melhor tolerância, relacionamento interpessoal e atividade cognitiva", explica Corintho Viana, especialista em medicina do sono e membro da ABS.

A quantidade de horas ideal para dormir toda noite depende da idade, mas, em geral, o mínimo recomendado é de cinco horas. Crianças e adolescentes têm necessidade de passar mais tempo na cama, para que haja a produção do hormônio GH, associado ao crescimento. "Hoje acontece muito do jovem retardar a dormir graças ao uso de aparelhos eletrônicos", alerta Viana.

Com sintomas de depressão e crises de hipertensão desde que descobriu a gravidez da filha, a secretária Jacilda*, 54, começou a tomar remédios para conseguir dormir. O início, no entanto, já é condicionado a um prazo pessoal estabelecido para se livrar da substância. "Sou ansiosa e me preocupo até com o que só vai acontecer na semana seguinte. Se não tomo o medicamento, acordo de madrugada. É algo que aprisiona e não quero ser dependente", diz.

A decisão da secretária é acertada, porque o risco de ficar exposto à ação desses remédios por muito tempo é o déficit crônico de sono. Como agem no sistema nervoso central, eles geram esquecimento, irritabilidade e impaciência, além de seu uso já ser associado ao aumento de até 30% nas chances de se desenvolver mal de Alzheimer.

*Nome fictício

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Silenciosa sempre
e mais presente que nunca

Em Pernambuco, 7% da população sofrem com depressão, terceira doença mais incapacitante do país – atrás de problemas cardiovasculares e câncer. Esse é o maior índice entre os estados do Nordeste e atinge principalmente mulheres. Para se ter uma ideia, graças ao problema, 1,4 mil pessoas são afastadas anualmente dos postos de trabalho no estado.

Ainda assim, apenas metade dos diagnosticados fez uso de remédios controlados e buscou assistência médica nos últimos 12 meses - dado ligado, sobretudo, ao preconceito ainda incutido na sociedade para os distúrbios de cunho psicológico e psiquiátrico. "Um médico de saúde da família lida com ao menos oito casos por semana, mas a depressão ainda é ridicularizada ou vista como uma espécie de fraqueza, quando, na verdade, qualquer pessoa tem até 20% de chance de desenvolvê-la", reclama o presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, Everton Botelho. O risco é ainda mais preocupante quando se considera que um em cada sete diagnosticados tenta tirar a própria vida – deste grupo, um em cada 20 consegue.

 

Mapa da depressão


• 61 mil pessoas foram afastadas do trabalho por conta de depressão no Brasil em 2013
• 1,4 mil são pernambucanas, 2,3% do total
• 2 vezes mais casos são registrados entre pessoas com ensino superior comparadas à população sem instrução
• 1 em cada 10 pessoas diagnosticadas no estado sofre com limitações severas em suas atividades habituais
• No ano passado, até novembro, foram 1,4 mil novos afastamentos no estado

3 perguntas sobre sono e vício

Quem fala do uso de medicamentos para dormir e seus riscos é o ex-presidente da Associação Brasileira do Sono, Francisco Hora.

Qual o problema real desses tipos de medicamento para induzir o sono?
Os benzodiazepínicos, que são os tipos mais comuns desses remédios, não podem ser recomendados por vizinhos ou amigos com base em queixas básicas de não conseguir dormir. Profissionais do sono têm consciência disso, mas há uma parte da classe médica que acaba receitando essas substâncias controladas acreditando ser a solução, quando a pessoa nem sempre precisaria.

Mas quais os riscos da longa exposição do organismo a essas drogas?
São duas. A primeira é a dependência. Quando a pessoa precisa da substância para dormir começa o vício, que é bastante danoso, em especial nos idosos. As pessoas nem atentam para isso, mas um dos efeitos desses medicamentos é o relaxamento muscular, o que facilita, por exemplo, que pessoas mais velhas tropecem e caiam de madrugada ou escorreguem no banheiro, por exemplo. O segundo risco é a tolerância. O corpo se acostuma a uma dose e as pessoas, na ânsia para dormir, começam a tomar dois, três comprimidos, reduzindo seus efeitos e gerando uma resistência ao medicamento. E, para isso, basta uma receita mal recomendada.

Existe um tempo máximo recomendado para utilizar este tipo de droga?
Não há remédio bom ou ruim. Há o necessário e o desnecessário. É preciso, nesses casos um acompanhamento clínico e farmacológico sério e um controle rigoroso. Para a maioria das pessoas, a métrica é que o importante é tomar esse tipo de remédio pelo mínimo de tempo necessário e ponto.

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