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Os campeões
da pressão alta

Foi por um excesso de cuidado materno que, há quatro anos, Luiz Felipe Libório, 25, descobriu sua pressão arterial mais elevada que o normal. Depois de tomar remédio controlado por apenas um mês, mudou os hábitos de alimentação e a rotina de atividades físicas para evitar o problema que afeta os pais há anos. "Minha pressão estava alta, especialmente por conta da correria e do estresse no trânsito, mas, segundo a médica, era controlável com a prática de exercícios físicos. Passei a frequentar academia, andar de bicicleta e controlo bastante a quantidade de sal da comida que consumo fora de casa", garante. Mesmo com todos os cuidados, recentemente, um novo pico de pressão já o motiva a refazer os planos. "Fui recomendado a fazer mais exercícios aeróbicos e faço aferição de pressão regularmente, a exemplo dos meus pais, que a verificam todos os dias", completa.

O desenvolvedor de jogos recifense passa longe de estar sozinho. Dentre os novos hipertensos do país, uma parcela da população salta aos olhos: os atingidos abaixo dos 30 anos. A doença, comumente associada às pessoas idosas, cresce nessa faixa etária, e Pernambuco desponta negativamente nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde. Um em cada vinte pernambucanos desse grupo possui a doença, maior índice do país e o dobro da média nacional.

Além dos fatores já relacionados normalmente com a hipertensão, como obesidade, hábitos alimentares desregulados, consumo de álcool, tabagismo e sedentarismo, a maneira como o jovem lida com as frustrações e o estresse são destacados por especialistas como fator de influência para desregular a pressão arterial. Isso porque "estresse emocional libera uma carga de hormônio dentro do sistema nervoso e do corpo humano, provocando uma diminuição do diâmetro dos vasos e aumentando a pressão", explica o cardiologista membro da diretoria do RealCor Maurílio Rodrigues.

O que tem
mais sal?

O limite diário recomendado de sódio em nossa dieta é de 400mg por cada 100g de alimento. Mas com o consumo de certos alimentos, excedemos em até cinco vezes esse nível numa única refeição. Jogando, descubra onde esse sódio todo se esconde. Arraste os produtos da "prateleira" de cima e os ordene do maior para o menor nos selos vazios abaixo:

 

Doença já afeta
1/5 da população

A sabedoria popular sempre alertou: "Tudo em demasia é veneno". Se doce em excesso abre caminho para o diabetes, sal faz o mesmo para a hipertensão, por ser rico em sódio, que, em alta concentração no corpo, eleva a pressão arterial e, consequentemente, põe em risco o funcionamento do coração. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, 21,5% da população sofrem com a doença em Pernambuco.

Normalmente, o sódio é filtrado nos rins, mas, em excesso, acaba no sangue, onde atrai moléculas de água, o que eleva o volume do líquido e, por isso, a pressão dentro dos vasos. De maneira geral, considera-se "pressão alta" aquela que passa de 14 por 9. O problema dessa elevação? O sangue acaba "ferindo" a parede dos vasos que, com o tempo, podem enrijecer e entupir até romper, causando um acidente vascular cerebral (AVC), condição que já afeta um em cada 60 pernambucanos.

De acordo com o cardiologista tutor da Faculdade Pernambucana de Saúde Audes Feitosa, hipertensão não escolhe público, mas a prevalência entre homens é maior até os 50 anos, invertendo depois para as mulheres. Se considerada a cor, ela é duas vezes mais frequente em pessoas de cor não branca e quase sempre há uma predisposição genética. "Pessoas com tensão normal, mas com elevada sensibilidade à ingestão de sal apresentam incidência cinco vezes maior de hipertensão arterial, em 15 anos, do que os com baixa sensibilidade", explica.

Sabendo ou não do nível de sensibilidade, a pessoa deve ingerir no máximo três colheres de café rasas de sal por dia. No entanto, a média de consumo no Brasil é o dobro da recomendada e um em cada oito pernambucanos admite abusar do condimento. Além disso, é prudente realizar aferição da pressão arterial a cada seis meses e ficar atento a sintomas como dores de cabeça, falta de ar, visão borrada ou vômito. "Não temperar as comidas com sal e colocar o ingrediente apenas quando for servir o prato é uma das maneiras de fazer um controle mais rigoroso", completa Feitosa.

A teoria de Luan

Muitos jovens como Luan se acostumaram a fazer uso do sal antes mesmo de experimentar a comida, um risco que pode custar caro

 

Luan Duarte, 26, empresário:
"Tenho uma teoria: os restaurantes do Recife criaram o 'padrão batata frita sem sal'. Conhecendo ou não o estabelecimento, basta olhar que já identifico quando preciso complementar o sal. Tem amigo que reclama e brinca com isso. É que a batata é exceção, porque nunca coloco sal nas comidas já preparadas, mas é impressionante: só não confirmei a teoria uma vez! Jogo sal e, se for demais, uma batidinha de leve para cair o excesso resolve. Normalmente não brinco com sal, porque meus pais são hipertensos. Faço exercícios e exame de sangue a cada dois anos e as taxas nunca alteraram. Em casa, minha mãe combina com a cozinheira para maneirar no sal em tudo. Dá para levar uma vida saudável, sim".

Estresse: o mal do século

Quem fala da relação "estresse x hipertensão" é o psicoterapeuta coordenador do curso de psicologia da Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), Valternandes Carvalho.

Como o estresse influencia no surgimento da hipertensão?
A gente entende que o estresse é um conjunto de ações do organismo, caracterizado pelo desequilíbrio do nosso corpo, e acontece em resposta a ameaças ou agressões de estímulos ambientais, de natureza psíquica. Inicialmente ele é um alerta de que algo não está bem e, quando associado a outros hábitos de vida nada saudáveis, pode desencadear a hipertensão. É preciso fazer uma leitura minuciosa do tipo de vida que a pessoa tem.

Geralmente, em que situações o estresse é desencadeado a ponto de causar alerta?
Indivíduos cujo desejo de experimentação é muito forte, como os jovens, se arriscam demais e são pessoas com capacidade reduzida de reflexões, normalmente impulsivas. Com isso, estão sujeitos a uma série de frustrações, às precipitações de respostas comportamentais e a um quadro de emoções que favorece o estresse. Os jovens de hoje são submetidos a uma cobrança grande por resultados expressivos.

Isso favorece o quadro de estresse?
Estamos inseridos em um sistema que requer respostas imediatas, não leva em consideração as diferenças, ele não oportuniza as pessoas a refletir, a desempenhar funções com mais calma, cautela. Normalmente, as respostas não são satisfatórias e aí vêm as frustrações e a incapacidade das pessoas em lidar com isso. Na medida em que isso acontece, além do desequilíbrio emocional, vêm o cansaço, a noite mal dormida, o desequilíbrio do organismo. Falta uma educação equilibrada, não se pode atrelar a vida saudável apenas à economia.

Pernambuco é o estado com maior número de pessoas abaixo dos 30 anos hipertensas. Como podemos explicar o alto índice?
Os jovens do nosso estado, assim como do Nordeste inteiro, estão submetidos a uma exigência muito maior, por estarem dentro de uma região e cultura que até então se alimentava de um ritmo mais lento. Hoje, com a globalização, o nível de exigência é o mesmo. Há uma quebra de estilo de vida e o jovem está ficando cada vez mais tenso, em busca de ser o melhor. Percebemos isso no trabalho e na escola. E as famílias fazem investimento no filho conduzindo-o a algo que dê dinheiro e status. É incoerente com a estrutura de personalidade, com o funcionamento da pessoa.

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