Vamos mostrar pra vocês...


O Nordeste ainda nem se chamava Nordeste quando Luiz Gonzaga do Nascimento veio ao mundo na madrugada de uma sexta-feira, em 13 de dezembro de 1912. Quando o Nordeste começou a ser chamado pelo nome, no início dos anos 1940, Luiz Gonzaga começou a ser chamado de o Rei do Baião em shows, em rádios e em discos. Os dois evoluíram juntos, com Gonzaga cantando o que via e o que ainda queria ver no Nordeste - e o que ninguém fazia questão de enxergar.

O sanfoneiro de Exu foi a voz e o ritmo dos grandes temas da região. Da terra, do homem, da luta. Quando ainda faltavam 20 anos para o termo "música de protesto" ser usado no Brasil, lá estava ele denunciando o descaso histórico com o Sertão em Vozes da seca. Cantou as grandes obras de sua época. Falou em ecologia ainda na década de 1980, no sofrimento dos retirantes e na ganância dos mais ricos. Na saudade do homem do campo obrigado a ir embora para a cidade.

Gonzaga, porém, também sabia que a vida, assim como a história, acontece nos pequenos suspiros do cotidiano. E se debruçou em cantar as festas, os céus estrelados, as caminhadas em estrada de terra sem fim, nas horas que se dilatam em dias do Sertão. Os pássaros, as parteiras, os vaqueiros, os cheiros, o vuco-vuco das feiras, a alegria de viver e de festejar de um Nordeste cheio de fé em Deus e de esperança nos homens.

Cem anos depois do nascimento de Luiz Gonzaga, o Nordeste vive mais uma grande seca. Continua sendo uma das regiões menos desenvolvidas do Brasil. Continua pedindo ajuda federal e acreditando que obras faraônicas podem mudar a região. O Nordeste que Gonzaga cantou ainda existe - mas também se transformou. O sertanejo hoje usa a tecnologia para sobreviver na estiagem. Usa a educação formal para sair da miséria. O avião para matar a saudade de casa.

Cem anos depois do nascimento de Luiz Gonzaga, a repórter Carolina Santos, a fotógrafa Blenda Souto Maior e o motorista Clécio Bunzen pegaram a estrada para percorrer mais de quatro mil quilômetros entre seis estados do Nordeste - além do Rio de Janeiro, onde Gonzaga morou boa parte da vida - para rever um pouco do que o olhar de Gonzaga capturou. O Rei do Baião não somente cantou o Nordeste. Ele viveu e amou o seu povo, sintetizando toda uma cultura em forma de palavras e melodias. E, hoje, nos ajuda a compreender o que é ser tão nordestino.